Tendência de aumento no número de áreas comuns cresce. Itens elevam taxa de condomínio entre 50% e 75%

Salão de festa, parquinho e churrasqueira. Há cerca de três anos, eram estes os elementos encontrados como opções de lazer em condomínios verticais e horizontais. Atualmente, procurar um lançamento é saber que vai encontrar mais do que os elementos básicos de entretenimento. Os equipamentos de lazer oferecidos estão mais amplos e sofisticados. Incluem sauna, piscina, sala de ginástica, horta, pet shop, lan house, cinema, sala de jantar, escritório, salão de festas para diferentes faixas etárias, entre outros.

“A gente busca oferecer todos esses itens de lazer, que são atributos de comodidade para o morador. Em vez de sair de casa para fazer academia ou jantar com amigos, é possível fazer isso dentro do espaço do condomínio, ganhando e otimizando o tempo”, indica João Auada Junior, diretor de negócios da construtora Tecnisa. De acordo com ele, além do tempo, outro propósito é baratear o custo de opções de lazer. “Hoje em dia, ninguém mais tem título de clube ou talvez não possa matricular todos os filhos em aulas de natação, por exemplo. Mas pode ter essas opções integradas ao local onde mora”, comenta.

O mercado imobiliário tende a manter esse tipo de opção nos lançamentos. “O tamanho do terreno pode interferir na quantidade de itens de lazer, mas os imóveis vão contar com esses elementos”, aponta Marco Antonio Palha, mais conhecido como Alan, diretor geral de vendas da Imobiliária Lopes em Curitiba. Segundo ele, em São Paulo e outras capitais, esses empreendimentos já são mais comuns. “Aqui, ainda é novidade, as pessoas têm medo que fique mais caro o condomínio, mas pela nossa experiência em outros locais, não haverá mu­­dança brusca”, afirma.

“O curitibano vai se acostumar a dividir o espaço com os vizinhos, mesmo que a cidade ofereça clubes e parques”, comenta. Alan explica que, em outras experiências, quem mais tem aproveitado os espaços são as crianças de até 12 anos, e isso pode influenciar na escolha dos pais. “Hoje em dia, por fatores de segurança, é melhor saber que seu filho está brincando dentro de casa”, lembra Junior.

Preço e resposta

O valor do condomínio terá de dar conta da manutenção desses espaços. No entanto, os condomínios-clube costumam ser construídos em terrenos grandes, que comportam muitas unidades. “A maioria deles tem entre 200 e 300 unidades. Por isso, no rateio fica barato para todo mundo”, diz Alan.

No entanto, em Curitiba, imobiliárias e administradoras de condomínios ainda não conseguem avaliar a resposta do mercado consumidor com relação a esse tipo de imóvel e o preço que vai custar ao morador. “Dependendo das opções que oferece, vemos os condomínios que oferecem opções de lazer podem cobrar taxas que vão de 50% a 75% a mais que a taxa básica, que costuma irar em torno de R$ 200”, diz Sandro Dudeck, sócio da Octra Administra­­do­­ra de Condomínios.

“Os primeiros imóveis com esse conceito, em bairros mais centrais, estão sendo entregues agora. Aqui, sabemos que no Ecoville, que estava longe de núcleos urbanizados, foi um sucesso, mas ainda não é possível analisar como o morador vai utilizar a academia do prédio se ele mora no Centro, por exemplo e tem outras opções”, diz Michel Galiano, diretor geral da imobiliária Apolar.

Mas as opções de lazer são o principal motivo de muitas compras. O casal Hellen e Paulo Tenório compraram uma unidade no Club San Marino justamente por causa dos itens de entretenimento. “Isso foi o diferencial. Somos jovens, temos muitos amigos e vamos querer usar cada espaço do condomínio”, afirmam.

Equipamentos

Um estilo para cada público

O equipamento de lazer oferecido em cada empreendimento vai depender do público que vai ser atingido. Se forem famílias, casais jovens, idosos ou pessoas que vão morar sozinhas, muda também o foco das áreas comuns. “Áreas para brincar, playground, piscina infantil e um salão de festa com uma decoração ou algo que remeta a coisas mais lúdicas serão montados onde haverão crianças morando”, exemplifica João Auada Junior, da Tecnisa.

Se a intenção foi agradar adolescentes, salas de música e próprias para games estarão disponíveis. Para os adultos, espaços contemplativos, locais para promoção de saúde, como piscinas aquecidas e academias, além de salas para refeições estão entre as alternativas oferecidas que tem maior procura. “Temos que atender o público que vai morar lá e pensar no bem-estar do consumidor final. Por isso, pensamos em todo o tipo de espaço que pode ir ao encontro da necessidade do morador”, explica Auada.

Trabalho do síndico também aumenta

A tendência de oferecer condomínios-clube influencia no trabalho de quem administra esses locais. As opções de lazer e a proliferação de áreas comuns podem ser pontos positivos na hora da venda, mas a convivência entre os condôminos depende de jogo de cintura e, principalmente, da eficiência do síndico. Aliás, achar quem assuma o cargo nesse tipo de investimento é complicado. “Ninguém quer ficar com a responsabilidade, porque todos sabem que dá trabalho”, comenta Sandro Dudeck, sócio da Octra Administradora de Condomínios.

De acordo com ele, os problemas se dão por causa de convenções de condomínio mal elaboradas. “As construtoras entregam esse documento no seu formato mais básico. É preciso atentar para atualizar a convenção, trazendo as situações do dia a dia e ainda, prevendo o que poderá acontecer”, ex­­plica. Dudeck conta que entre a principal reclamação está o uso das áreas comuns por pessoas eu não moram no condomínio. “E o problema nem são as visitas isoladas. Netos que passam todo o fim de semana na casa da avó, por exem­­plo, devem ou não usar os equipamentos do condomínio?”, aponta.

A tarefa não é simples e quem assumiu o cargo conta que a convivência traz novidades continuamente. A responsabilidade do síndico será ampla e terá de buscar que os interesses comuns prevaleçam. “A realidade nos traz situações mais específicas e as convenções terão de descer às minúcias para evitar conflitos”, comenta a advogada Lourdes dos Santos. Segundo ela, as pessoas estão adquirindo uma unidade para morar e, ao mesmo tempo, um clube, com diversas opções. “São duas situações diversas e embora o entretenimento esteja dividindo o mesmo espaço com a residência, é preciso que haja um regramento básico e que ele seja respeitado”, comenta.

Horários de funcionamento, manutenção, segurança para espaços onde há convívio entre adultos e crianças, além da formação de um fundo de reserva que dê conta das despesas que os itens criam estão entre as especificidades que tem de estar contidas na convenção do condomínio.

Fonte: Gazeta do Povo